Arte milenar de origem greco-romana, amplamente utilizada durante a Antiguidade Clássica e difundida pelo continente europeu a partir da Idade Média, representa a taquigrafia (ou estenografia) uma forma de escrita abreviada e simplificada na qual se empregam sinais que permitem escrever com a mesma rapidez com que se fala. Em outras palavras, é a arte de escrever por meio de sinais convencionais a uma velocidade bem mais elevada que a da escrita comum. Em seu mais alto grau de aperfeiçoamento, permite apanhar fielmente as palavras de um orador, mas pode ser igualmente utilizada como elemento auxiliar nos diferentes ramos de atividade humana. Sua aplicação impõe-se em todos os setores profissionais e intelectuais — juristas, parlamentares, jornalistas, dela podem se utilizar para o registro de notas pessoais, entrevistas, redação de contratos, observações, etc. Como mero instrumento de trabalho, não exige métodos e processos altamente aperfeiçoados e não requer a velocidade indispensável a um profissional. Como atividade profissional, nos campos comercial, judiciário e parlamentar, exige o máximo de habilitação e aperfeiçoamento.
Embora seja provável que a taquigrafia remonte, pelo menos, à antiguidade grega — quer atribuída a Xenofonte, que por meio dela fez chegar até nós os discursos de Sócrates, quer diga-se que quem primeiro a pôs em prática foi Pitágoras —, a mais antiga indicação precisa a seu respeito é procedente de Roma. Os romanos adotaram-na, e aí pelo ano 70 a.C. apareceram os primeiros ensaios. Cícero os teria ensinado a seu liberto Marcus Tullius Tiro, que os aperfeiçoou. Conhecida como “notas tironianas”, a taquigrafia projetou-se no seio da intelectualidade de Roma. Reconhecida sua utilidade prática e cultural, seu ensino foi adotado em mais de 4 mil escolas do grande Império Romano. A essas notas deve-se o conhecimento, entre outros documentos, dos “Atos dos Mártires”. Não se conheceu outro sistema de taquigrafia na Antiguidade nem na Idade Média.
Depois do Renascimento, com a invenção da imprensa, iniciou-se nova fase na história da taquigrafia. Durante esse período que abrangeu uns três séculos, apareceram mais ou menos 215 sistemas, dos quais só oito ou nove conseguiram firmar-se.
Sucederam-se como sistemas abreviativos transitórios: “Tratado de estenografia moderna”, dedicado à Rainha Elisabet, pelo Dr. Timóteo Bright (1588); João Wills (1602) criou o primeiro método estenográfico propriamente dito, que serviu de base a inúmeros outros; apareceram Guilherme Mason (1672) e Tomás Gurney (1751), que foi nomeado taquígrafo oficial do governo inglês. Na segunda metade do século XVIII, apareceram uns 50 sistemas, entre os quais destacam-se os de John Byron (1761) e o de Taylor (1786), chamado “stenographic sound-hand”. Em 1837, Isaac Pitman fundamentou seu alfabeto sobre princípios científicos de fonética. O novo sistema foi muito bem recebido, e em quinze dias o autor viu esgotarem-se nove edições de sua “Fonografia”. A Rainha Vitória, reconhecendo os relevantes serviços prestados por Pitman, conferiu-lhe o grau de Cavalheiro (1893). A taquigrafia de Pitman tem sido adaptada a quase todas as línguas existentes, porém os princípios da estenografia moderna foram estabelecidos por Samuel Taylor em 1786.
Não há noticias de qualquer método taquigráfico usado nos Estados Unidos até que o sistema de Isaac Pitman (1844) para lá foi levado por Estêvão Peari Andrews. Depois, foram importados da Alemanha e da França os sistemas de Gabelsberger e Duployé e começaram a surgir os de J. G. Gross (denominado “eclético”), E. E. Mac Kee e John Robert Gregg. Esse último, por ter visto proibida a divulgação de seu livro na Inglaterra, partiu para os Estados Unidos, onde desenvolveu extraordinário trabalho de difusão de seu processo, a ponto de o mesmo tornar-se o sistema predominante na grande nação.
Embora “a honra de ter feito da taquigrafia um sistema pertença especialmente à nação inglêsa”, como reconhece Gabelsberger, outras nações da Europa também deram suas contribuições.
Na França apareceu Jacques Cossard (1633) e, a seguir, Coulon de Thévenot, que em 1776 apresentou seu primeiro trabalho à Academia de Ciências de Paris; depois deste, vários métodos foram inventados, podendo destacar-se as adaptações do sistema Taylor por Bertin (1782) e por Conan de Prépéan (1813). A adaptação de Bertin foi aperfeiçoada por Prévost (1808-1873) e deu origem ao sistema Prévost-Delaunay, do nome do autor e de um de seus alunos que o fixou em regra. A adaptação de Prépéan deu origem ao sistema Aimé-Paris (1822) e ao Duployé (1860).
Na Alemanha destaca-se o método de Gabelsberger (1892), que foi adaptado ao português por Albert Pfeil. Em 1800, na Espanha, o método Taylor foi adaptado para o espanhol pelo taquígrafo Francisco Ramón Marti. Em 1822, Ângelo Ramón Marti adaptou à língua portuguêsa o método usado por seu pai, na Espanha. Este sistema ainda hoje é usado na Espanha, Portugal e Brasil.
O primeiro taquígrafo argentino foi Bernardo Victoria (1818). O sistema Marti predominou na Argentina até que D. Guillermo Pawdy, que adaptara ao castelhano o sistema Pitman, ocupando a cadeira de Fonografia (1869) no Colégio Nacional, deu início a uma nova etapa na história da taquigrafia argentina.
Em 1816, um inglês residente em Portugal, Guilherme Teague, publicou uma adaptação do sistema Pitman à língua portuguesa, sob o título de “Taquigrafia Pittea”. A Antônio Patrício Pinto Rodrigues coube a publicação do primeiro método taquigráfico no Brasil, adaptado do sistema Taylor, no principio do século XIX, e a José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, deve-se a introdução da taquigrafia parlamentar no Brasil, iniciada com o apanhamento dos debates da primeira Assembleia Constituinte de 1823. Como Ministro do Reino (1822), em nome de Sua Majestade, já instituíra a aula de Taquigrafia da Câmara, que, regida por Isidoro da Costa Oliveira, não deixou de funcionar, mesmo quando foi dissolvida a Constituinte.
Portanto, a implantação dos serviços taquigráficos nos Parlamentos brasileiros ocorreu em 3 de maio de 1823, data da instalação da Primeira Constituinte. José Bonifácio, Patriarca da Independência, tratou de organizar tais serviços, com o que quatro taquígrafos brasileiros exerceram a profissão, pela primeira vez, no País.
Sobre estes profissionais, disse José Bonifácio, certa ocasião, em discurso apresentado ao Imperador D. Pedro I:
“Eu quero somente fazer uma explicação para ilustrar a matéria. Logo que se convocou esta Assembleia, viu Sua Majestade a necessidade de haver tachygraphos; eu fui encarregado de dar as precisas providencias. Um official da secretaria de estado dos negócios estrangeiros se incumbio de abrir uma aula de tachygraphia; e alunos matriculados trabalharão nessa aula. Para que fossem mais assíduos Sua Majestade lhes mandou dar uma diária de duas patacas, obrigando-se eles a aprender esta arte de que deverão fazer uso em serviço da Assembleia. Eis aqui o que tenho que dizer para que sirva de regulamento na deliberação”. (CURY, 2007, p. 2)
Dissolvida a Assembleia, seguiu-se-lhe, em 25 de março de 1824, a Constituição, operando o desmembramento dos dois ramos do Legislativo. Desde então, vêm os taquígrafos efetuando um trabalho que se entende como a própria crônica da História Parlamentar, pois através desses serviços se registram os debates, os discursos e todo o processo de elaboração legislativa.
A partir de 1831, deu-se início ao uso das notas taquigráficas, pela imprensa brasileira, para divulgar as discussões parlamentares, resumidas pelos melhores taquígrafos existentes no País. Assim, todos os registros taquigráficos das sessões realizadas na Câmara dos Deputados passaram a constituir fonte de consulta e pesquisa, o que possibilitou a compreensão dos fatos ocorridos e registrados nos diversos períodos da história do Parlamento brasileiro e da própria história do Brasil. Por meio desses registros é possível, ainda, identificar o perfil político do País num determinado período de tempo, bem como averiguar as políticas e negociações realizadas por determinado deputado.
Durante quase um século, a taquigrafia no Brasil foi um verdadeiro privilégio, algo de misterioso, apenas acessível a alguns iniciados. Além das dificuldades correntes para a difusão do ensino taquigráfico, o sentido literário dos programas de ensino, mormente no curso secundário, não estimulava a juventude a adquirir tão valioso instrumento de trabalho. O ambiente taquigráfico parlamentar era fechado, à exceção do Rio de Janeiro, onde o Senado e a Câmara dos Deputados já mantinham serviço oficializado desde 1906, chegando mesmo a contar, mais tarde, com os maiores expoentes profissionais do País, entre eles Eurico Jaci Monteiro de Oliveira, o “Príncipe dos Taquígrafos Brasileiros”. Iniciando este no Senado sua atuação profissional, submeteu-se a concurso público e em 1906 entrou em exercício na Câmara Federal. Mais tarde, ao assumir a direção dos Serviços de Taquigrafia da Câmara, remodelou-os à feição das modernas normas universalmente adotadas em serviços parlamentares. Representou o Brásil no IX Congresso Internacional de Estenografia, reunido em Darmstadt, publicou alguns trabalhos no estrangeiro e no País. Organizou inúmeras conferências e congressos no Brasil e, finalmente, foi convidado a participar dos trabalhos taquigráficos da Conferência Pan-Americana reunida no Chile em 1923. Faleceu em 1955.
As práticas de negócio norte-americanas e europeias, principalmente as primeiras, começaram a exercer influência em nossos grandes centros, fazendo sentir seus efeitos nos processos de trabalho de nossos escritórios. A necessidade da presença de taquígrafos nos meios comerciais determinou o aparecimento das primeiras escolas de taquigrafia.
O primeiro ensaio de publicação especializada em nosso meio, “Notas Tironianas”, dirigido por Amaro Albuquerque, foi publicado, a partir de 1917, na revista “Mensário Brasileiro de Contabilidade”, Rio de Janeiro. Em 1929, então, surgiu a “Revista Taquigráfica”, série progressiva fundada pelo Professor Oscar Diniz Magalhães, destinada à divulgação do sistema Marti. Em 1933, passou a ser o órgão oficial da “Federação Taquigráfica Brasileira”, fundada em julho do mesmo ano, em São Paulo. Em 1945, a Federação passou a chamar-se “Organização Taquigráfica Brasileira”, e sua sede foi transferida para o Rio de Janeiro. A publicação da “Revista Taquigráfica” foi suspensa em 1950. Em 1932, foi criada em Piracicaba, pelo Dr. Oscar Leite Alves, com o fim de divulgar seu novo método de taquigrafia, a “Associação Taquigráfica Paulista”, declarada pelo Governo Federal, em 1947, instituição de utilidade pública.
Em 1935, o Dr. Salomão de Vasconcelos fundou a “Academia Estenográfica de Minas Gerais”. Seguem-se a “Sociedade Rio-Grandense de Estenografia”, o “Núcleo Estenográfico de Curitiba” e o “Centro dos Taquígrafos de São Paulo” (1943), CETASP, que iniciou a carreira de taquígrafo parlamentar no Estado, fundou a revista “Taquigrafia” (1950) e, em 1951, promoveu o 1º Congresso Brasileiro de Taquigrafia, sendo presidente da entidade Anisio Gonçalves Mareco. O Congresso reuniu, além dos grandes nomes da taquigrafia brasileira, jornalistas e homens de letras, representantes de Portugal, Argentina e Uruguai. O temário desenvolvido incluiu aspectos teóricos, pedagógicos, técnico-profissionais, históricos e aspectos gerais da taquigrafia — teses que foram, posteriorrnente, publicadas nos Anais do Congresso. As sessões solenes de abertura e encerramento realizam-se a 26 de fevereiro e 3 de março de 1951, rio Salão de Conferências da Biblioteca Municipal de São Paulo. Finalmente, em 1948, foi fundada a “Casa do Taquígrafo Brasileiro”, depois “Centro Taquigráfico Brasileiro”, cujo órgão oficial foi a “Revista do Taquígrafo”.